Seu exame de endoscopia ou o teste respiratório vieram com um resultado que pode parecer assustador: positivo para Helicobacter pylori. A primeira reação é uma avalanche de dúvidas: “O que é essa bactéria? É grave? Como eu peguei isso? E, principalmente, como eu me livro dela?”.
Calma. Receber esse diagnóstico é, na verdade, uma ótima notícia. Significa que você encontrou a causa raiz da sua gastrite e que existe um caminho claro e eficaz para o tratamento. Eliminar a H. pylori é um passo fundamental para permitir que seu estômago cicatrize de verdade e para prevenir problemas futuros.
Neste guia, vamos desmistificar o tratamento para a H. pylori, explicando como ele funciona, o que esperar durante o processo e por que é tão importante segui-lo à risca.
Por que tratar o H. pylori é tão importante?
Antes de falar do tratamento, é crucial entender por que seu médico o indicou. Segundo o American College of Gastroenterology, a H. pylori não é uma bactéria inofensiva. Ela é a principal causa de:
- Gastrite Crônica: A inflamação persistente que ela causa na parede do estômago.
- Doença Ulcerosa Péptica: É responsável pela grande maioria das úlceras no estômago e no duodeno.
- Aumento do Risco de Câncer Gástrico: A longo prazo, a inflamação crônica causada pela bactéria é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de adenocarcinoma gástrico e um tipo raro de linfoma chamado MALT gástrico.
Portanto, tratar e erradicar a bactéria não é apenas para aliviar os sintomas da gastrite, mas um investimento na sua saúde a longo prazo.
A “Terapia Tripla”: entendendo seu esquema de antibióticos
A H. pylori é uma bactéria resistente e que vive em um ambiente muito hostil (o ácido do seu estômago). Por isso, o tratamento precisa ser um ataque combinado e potente. O esquema mais comum e recomendado pelas diretrizes médicas no Brasil e no mundo é a chamada “Terapia Tripla”.
Ela consiste na combinação de três medicamentos, tomados juntos, por um período de 7 a 14 dias:
- Um Inibidor de Bomba de Prótons (IBP): É o seu “prazol” (Omeprazol, Lansoprazol, Pantoprazol, etc.).
- Sua Missão: Ele não mata a bactéria diretamente. Sua função é diminuir drasticamente a acidez do estômago. Isso cria um ambiente menos favorável para a H. pylori e, crucialmente, aumenta a eficácia dos antibióticos.
- Antibiótico #1 (Geralmente Amoxicilina):
- Sua Missão: É um antibiótico de amplo espectro que ataca a parede celular da bactéria, enfraquecendo-a.
- Antibiótico #2 (Geralmente Claritromicina):
- Sua Missão: É o segundo soldado no ataque. Ele age inibindo a síntese de proteínas da bactéria, impedindo que ela se multiplique e funcione corretamente.
Existem kits prontos em farmácias (como o Pyloripac) que já vêm com a cartela organizada com os três medicamentos para facilitar a adesão ao tratamento.
Efeitos colaterais do tratamento: o que é normal e como lidar?
Sejamos honestos: a terapia tripla é um tratamento intenso e é comum sentir alguns efeitos colaterais. Conhecê-los de antemão ajuda a não se assustar e a não abandonar o tratamento no meio.
- Gosto Metálico na Boca: É talvez o efeito mais comum, causado principalmente pela Claritromicina. É chato, mas inofensivo. Dica: Mascar chicletes ou chupar balas sem açúcar pode ajudar a disfarçar o gosto.
- Náuseas e Desconforto Abdominal: A carga de antibióticos pode pesar no estômago. Dica: Tome sempre os medicamentos junto com as refeições (café da manhã e jantar), nunca com o estômago vazio.
- Diarreia: Os antibióticos matam as bactérias ruins, mas também afetam as bactérias boas da sua flora intestinal. Dica: Converse com seu médico sobre a possibilidade de associar o uso de probióticos durante ou após o tratamento para ajudar a restaurar sua flora.
- Dor de Cabeça: Pode ocorrer, mas geralmente é leve.
A importância de seguir o tratamento à risca (e os riscos da resistência)
Seu médico prescreveu 14 dias? Você precisa tomar todos os comprimidos, de todas as doses, por todos os 14 dias, mesmo que você comece a se sentir melhor no quinto dia.
Por quê? Porque se você para no meio, você pode não ter matado todas as bactérias. As que sobrevivem são justamente as mais fortes. Elas podem se multiplicar e criar uma nova colônia resistente aos antibióticos que você usou, tornando um futuro tratamento muito mais difícil e complexo. O risco de falha do tratamento aumenta de forma significativa.
E depois do tratamento? Como saber se a bactéria foi eliminada?
Terminou os 14 dias? Ótimo! Mas a jornada ainda não acabou.
É preciso esperar pelo menos 4 semanas após o fim dos antibióticos para fazer um teste e confirmar que a bactéria foi realmente erradicada. O método não invasivo mais utilizado e recomendado é o Teste Respiratório com Ureia Marcada.
- Como funciona? Você ingere uma cápsula ou um líquido contendo ureia com um tipo especial de carbono. Se a H. pylori ainda estiver no seu estômago, ela irá quebrar essa ureia e liberar o carbono marcado, que aparecerá na sua respiração. É um exame simples, indolor e altamente eficaz.
Completar o tratamento para a H. pylori é um passo definitivo para a saúde do seu estômago. É um processo que exige disciplina, mas a recompensa – a cicatrização da sua gastrite e a redução de riscos futuros – vale cada dia do esforço.
Para entender como este tratamento se encaixa no cuidado geral com sua saúde gástrica, não deixe de ler nosso guia pilar e completo sobre gastrite.
Referências e Fontes Consultadas:
- American College of Gastroenterology (ACG). “ACG Clinical Guideline: Treatment of Helicobacter pylori Infection (2017).” Disponível em: https://gi.org/guidelines/treatment-of-helicobacter-pylori-infection/
- National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK). “Helicobacter pylori (H. pylori) and Peptic Ulcers.” Disponível em: https://www.niddk.nih.gov/health-information/digestive-diseases/peptic-ulcers-stomach-ulcers/h-pylori
- Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Diretrizes sobre o diagnóstico e tratamento da infecção por H. pylori.