A psoríase é uma doença inflamatória crônica e não contagiosa que afeta predominantemente a pele, embora possa ter manifestações sistêmicas. Sua etiologia é complexa e multifatorial, resultando da interação entre predisposição genética, fatores ambientais e disfunções imunológicas.
Predisposição Genética
A hereditariedade desempenha um papel significativo na psoríase. Estudos indicam que indivíduos com histórico familiar da doença apresentam maior risco de desenvolvê-la. Contudo, a psoríase não é causada por um único gene, mas por uma combinação de múltiplos genes que aumentam a susceptibilidade. Entre os loci genéticos identificados, destaca-se o PSORS1, localizado no cromossomo 6p21, associado à predisposição à psoríase. É importante notar que a presença desses genes não garante o desenvolvimento da doença, indicando a influência de fatores ambientais na sua manifestação.
Fatores Ambientais
Diversos fatores ambientais podem desencadear ou agravar a psoríase em indivíduos geneticamente predispostos. Vamos conferir?
- Trauma Cutâneo: Lesões na pele, como cortes, queimaduras ou arranhões, podem precipitar o aparecimento de lesões psoriáticas, fenômeno conhecido como “fenômeno de Koebner”.
- Infecções: Infecções bacterianas, especialmente por estreptococos, estão associadas ao desenvolvimento de psoríase gutata, a qual é uma forma particular da doença.
- Estresse: O estresse emocional é reconhecido como um fator desencadeante e agravante da psoríase, possivelmente devido à liberação de mediadores inflamatórios durante períodos de tensão.
- Medicamentos: Certos fármacos, como betabloqueadores, lítio e antimaláricos, podem induzir ou exacerbar lesões psoriáticas.
- Estilo de Vida: Hábitos como consumo excessivo de álcool, tabagismo e obesidade estão correlacionados com a gravidade e frequência das manifestações da psoríase.
Disfunções Imunológicas
A psoríase é considerada uma doença autoimune mediada por células T. O sistema imunológico, por razões ainda não completamente compreendidas, identifica erroneamente células saudáveis da pele como ameaças, desencadeando uma resposta inflamatória.
Células dendríticas ativadas liberam citocinas pró-inflamatórias, como, por exemplo, o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucinas (IL-12, IL-23), que estimulam a proliferação de linfócitos T.
Esses linfócitos, portanto, produzem mais citocinas, perpetuando o ciclo inflamatório e resultando na hiperproliferação de queratinócitos, característica das lesões psoriáticas.
Interação entre Fatores
A manifestação da psoríase resulta da interação complexa entre predisposição genética, fatores ambientais e respostas imunológicas. Indivíduos geneticamente suscetíveis, dessa forma, podem permanecer assintomáticos até serem expostos a determinados desencadeantes ambientais que ativam respostas imunológicas anômalas, culminando no desenvolvimento das lesões características da doença.
Manifestações Cutâneas
- Placas Eritematosas com Descamação: Lesões elevadas, de coloração avermelhada, recobertas por escamas esbranquiçadas ou prateadas, são características marcantes da psoríase. Essas placas podem surgir em diversas regiões do corpo, sendo mais comuns no couro cabeludo, cotovelos, joelhos e região lombar.
- Pele Ressecada e Rachada: A pele afetada pode apresentar ressecamento intenso, levando a fissuras que, em alguns casos, podem sangrar.
- Prurido e Sensação de Queimação: Muitos pacientes relatam coceira intensa nas áreas afetadas, acompanhada de sensação de queimação ou dor local.
Alterações Ungueais
- Unhas Espessadas e Descoladas: A psoríase pode afetar as unhas, tornando-as mais grossas, amareladas e com alterações na superfície, como sulcos e depressões puntiformes. Em casos mais graves, pode ocorrer o descolamento parcial ou total da unha.
Comprometimento Articular
- Artrite Psoriásica: Em uma parcela dos pacientes, a psoríase está associada a inflamação das articulações, condição conhecida como artrite psoriásica. Essa manifestação pode levar a dor, inchaço e rigidez articular, afetando significativamente a qualidade de vida.
Variantes Clínicas da Psoríase
- Psoríase Gutata: Caracterizada por pequenas lesões em forma de gota, geralmente desencadeadas por infecções estreptocócicas, sendo mais comum em crianças e adultos jovens.
- Psoríase Invertida: Manifesta-se em áreas de dobras cutâneas, como axilas, virilhas e abaixo dos seios, apresentando lesões eritematosas sem descamação significativa, devido ao ambiente úmido dessas regiões.
- Psoríase Pustulosa: Caracteriza-se pela presença de pústulas estéreis sobre placas eritematosas, podendo ser localizada, afetando palmas e plantas, ou generalizada, acometendo grandes áreas do corpo.
- Psoríase Eritrodérmica: Forma rara e grave da doença, onde ocorre eritema e descamação em mais de 90% da superfície corporal, podendo ser acompanhada de sintomas sistêmicos como febre e mal-estar.

Impacto na Qualidade de Vida
Além das manifestações físicas, a psoríase pode afetar significativamente o bem-estar emocional e, além disso, o psicológico dos pacientes. O desconforto causado pelos sintomas, aliado ao impacto estético das lesões, pode levar a baixa autoestima, ansiedade e depressão.
Avaliação Clínica
- Exame Físico: O dermatologista realiza uma inspeção minuciosa da pele, couro cabeludo e unhas, identificando características típicas da psoríase, como placas eritematosas com descamação prateada, alterações ungueais e distribuição das lesões.
- Histórico Médico: A coleta de informações sobre o início dos sintomas, possíveis fatores desencadeantes, histórico familiar de psoríase ou outras doenças autoimunes auxilia no estabelecimento do diagnóstico.
Exames Complementares
- Biópsia de Pele: Em casos atípicos ou quando há dúvida diagnóstica, pode-se realizar uma biópsia cutânea. A análise histopatológica revela achados característicos da psoríase, como hiperplasia epidérmica, paraceratose e infiltração de células inflamatórias.
- Exames Laboratoriais: Não existem exames de sangue específicos para confirmar a psoríase. Contudo, em casos de suspeita de artrite psoriásica, podem ser solicitados testes para excluir outras condições, como artrite reumatoide, através da dosagem do fator reumatoide.
Diagnóstico Diferencial
É fundamental diferenciar a psoríase de outras dermatoses com apresentações semelhantes, como:
- Dermatite Seborreica: Caracteriza-se por placas eritematosas com descamação oleosa, geralmente em áreas seborreicas como couro cabeludo e face.
- Dermatofitoses: Infecções fúngicas que podem mimetizar lesões psoriáticas; assim, a microscopia com hidróxido de potássio auxilia na diferenciação.
- Líquen Plano: Apresenta pápulas violáceas pruriginosas, frequentemente nas superfícies flexoras dos punhos.
- Eczema: Dermatite caracterizada por lesões eritematosas e pruriginosas, podendo apresentar vesículas e exsudação.
- Pitiríase Rósea: Doença autolimitada com lesões em placa, geralmente precedida por uma lesão maior (“placa-mãe”).
Classificação da Gravidade
Após o diagnóstico, é importante avaliar a gravidade da psoríase para orientar o tratamento:
- Leve: Acometimento de até 10% da superfície corporal, sem impacto significativo na qualidade de vida.
- Moderada a Grave: Acometimento superior a 10% da superfície corporal ou envolvimento de áreas críticas (mãos, pés, face, genitais) e impacto considerável na qualidade de vida.
A precisão no diagnóstico e na avaliação da gravidade da psoríase é essencial para a implementação de um plano terapêutico eficaz, visando o controle dos sintomas e a melhoria da qualidade de vida do paciente.
Tratamentos Tópicos
- Corticosteroides: Aplicados diretamente nas lesões, ajudam a reduzir a inflamação e a coceira. São indicados principalmente para casos leves a moderados.
- Análogos da Vitamina D: Como o calcipotriol, regulam o crescimento das células da pele e podem ser usados isoladamente ou em combinação com corticosteroides.
- Inibidores de Calcineurina: Tacrolimus e pimecrolimus são opções para áreas sensíveis, como face e regiões intertriginosas, devido ao menor risco de atrofia cutânea.
- Alcatrão e Ácido Salicílico: Utilizados para reduzir a descamação e suavizar as lesões, frequentemente em formulações de xampus para o couro cabeludo.
Fototerapia
- Exposição Controlada a Raios UV: A fototerapia com UVB de banda estreita ou UVA combinado com psoraleno (PUVA) é eficaz em casos moderados a graves, retardando a proliferação celular.
Tratamentos Sistêmicos
- Metotrexato: Imunossupressor que reduz a atividade do sistema imunológico, sendo assim, indicado para psoríase moderada a grave.
- Ciclosporina: Outro imunossupressor utilizado em casos graves, especialmente quando há necessidade de resposta rápida.
- Retinoides Orais: Derivados da vitamina A, como a acitretina, são indicados para formas graves de psoríase, incluindo a pustulosa e eritrodérmica.
- Agentes Biológicos: Medicamentos que atuam em alvos específicos do sistema imunológico, como adalimumabe, etanercepte e ustequinumabe, são indicados para psoríase moderada a grave que não responde a outras terapias.
Cuidados Complementares
- Hidratação da Pele: O uso regular de emolientes ajuda a manter a pele hidratada, reduzindo a descamação e o prurido.
- Evitar Fatores Desencadeantes: Identificar e minimizar fatores que possam agravar a psoríase, como estresse, infecções e uso de certos medicamentos.
- Acompanhamento Médico Regular: Consultas periódicas com o dermatologista são essenciais para monitorar a eficácia do tratamento e ajustar as terapias conforme necessário.
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