Você é um Azoner curioso, talvez com um pé na tecnologia ou na música, e a ideia de criar o ‘som do corpo’ te fascinou. ‘Legal, mas como eu faço isso na prática?’. Este tutorial é para você. Não vamos apenas falar sobre, vamos mostrar o caminho das pedras. É um mergulho um pouco mais técnico, mas prometemos que vale a pena. Vamos conectar o mundo físico da biologia com o mundo digital do som. Preparado?
Os ingredientes da receita
Você vai precisar de três componentes principais:
- O Sensor (A Fonte de Dados): A maneira mais fácil e acessível de começar é com um sensor de frequência cardíaca que use Bluetooth Low Energy (BLE). A cinta peitoral Polar H9 ou H10 é o padrão ouro para isso, pois transmite dados de batimento (BPM) e intervalo R-R (para calcular a VFC) de forma aberta.
- O Intermediário (A Ponte): Seu computador não fala ‘Bluetooth de cinta cardíaca’ nativamente. Você precisa de um pequeno software que capture os dados do sensor e os envie para o seu software de áudio. Para Mac, o ‘Heart Rate to MIDI’ é uma ótima opção. Para PC, existem scripts em Python ou apps como o ‘Pulsoid’ que podem fazer o trabalho. A função deles é converter seus dados biológicos em um formato que os programas de música entendem, como MIDI ou OSC.
- O Gerador de Som (O Instrumento): Aqui é onde a mágica sonora acontece. Você pode usar qualquer Digital Audio Workstation (DAW) como Ableton Live, FL Studio, Logic Pro. Ou, para controle total, um ambiente de programação visual como Max/MSP ou Pure Data. Para este tutorial, vamos focar no Ableton Live por ser muito popular e versátil.
O passo a passo da conexão
Passo 1: Capture os dados do coração
Coloque sua cinta peitoral Polar. Abra o software ‘intermediário’ (ex: ‘Heart Rate to MIDI’ no Mac). Ligue o Bluetooth do seu computador e conecte-se à cinta. Você deverá ver seus dados de BPM e R-R aparecendo em tempo real no aplicativo. Ótimo! A fonte de dados está funcionando.
Passo 2: Crie a ponte para o Ableton Live
No seu software intermediário, configure-o para enviar os dados como mensagens MIDI. MIDI é a linguagem que os instrumentos eletrônicos usam para se comunicar. Você pode mapear, por exemplo:
- Cada batida do coração para enviar uma nota MIDI específica (ex: C3, Dó na terceira oitava).
- O valor do seu BPM para ser enviado como uma mensagem de ‘Control Change’ (CC) em um número específico (ex: CC#1).
- O valor do seu VFC (ou intervalo R-R) para ser enviado em outro número de CC (ex: CC#2).
No Ableton Live, vá em Preferências > Link/Tempo/MIDI e certifique-se de que a porta de saída MIDI do seu software intermediário está ativada como ‘Input’.
Passo 3: Dê vida ao som no Ableton Live
Agora a parte divertida. Crie uma nova pista MIDI no Ableton.
- Crie o Ritmo: Coloque um instrumento de bateria (Drum Rack) na pista. Na entrada MIDI da pista, selecione a porta do seu intermediário. Agora, cada vez que seu coração bater, ele vai disparar um som de bateria! Você pode escolher um bumbo, uma palma, o que quiser. O ritmo da sua música será, literalmente, o seu coração.
- Module a Harmonia: Crie uma segunda pista MIDI e coloque um sintetizador (ex: Wavetable). Na entrada MIDI, selecione ‘No Input’, pois não queremos que as batidas disparem notas aqui. Agora, entre no ‘Modo de Mapeamento MIDI’ (Cmd+M no Mac). Clique no botão do filtro do sintetizador (que controla o quão ‘brilhante’ ou ‘abafado’ é o som). Agora, mexa no slider correspondente ao seu BPM no software intermediário. Pronto! Você acabou de mapear seu BPM para o filtro. Seu coração acelerado deixará o som mais aberto e intenso, e um coração calmo o deixará mais suave e fechado.
- Controle a Textura: Faça o mesmo com a VFC. Mapeie o CC#2 (que está recebendo sua VFC) para o controle de ‘reverb’ ou ‘delay’ do sintetizador. Assim, quando você estiver mais relaxado (VFC alta), o som ganhará uma cauda etérea e espaçosa.
Experimente!
Este é apenas o ponto de partida. As possibilidades são infinitas. Você pode mapear sua respiração para controlar o volume, sua VFC para mudar de acordes, seu BPM para controlar a velocidade de um arpejador… Você se tornou um produtor musical e seu corpo é o principal instrumento.
Sim, é um pouco técnico, mas a sensação de ouvir uma música que responde diretamente ao seu estado interior é indescritível. É a fusão definitiva entre biohacking e arte. Para se inspirar com o que é possível, não deixe de revisitar nosso post pilar sobre a revolução do som do corpo.