Você já parou para pensar na complexidade dos movimentos que fazemos diariamente com a cabeça? Então, vamos a uma análise do esternocleidomastoideo, esse músculo do pescoço que muitas vezes passa despercebido, mas é fundamental para a nossa interação com o mundo ao redor.
O que é o esternocleidomastoideo?
O esternocleidomastoideo é um músculo bilateral localizado nas laterais do pescoço. Ele se origina no esterno e na clavícula e se insere no processo mastoide do osso temporal. Parece complicado? Mas não é só isso… Ele é responsável por movimentos cruciais, como a rotação e a flexão lateral da cabeça. Para nós, médicos e estudantes de medicina, compreender a fundo o esternocleidomastoideo é essencial. Ele não apenas desempenha funções motoras, mas também está envolvido em diversos quadros clínicos. A avaliação desse músculo pode revelar condições como distúrbios neuromusculares, lesões traumáticas e até mesmo sinais de doenças sistêmicas.
Anatomia e fisiologia do esternocleidomastoideo
Estruturas anatômicas envolvidas
O esternocleidomastoideo é composto por duas partes: a cabeça esternal e a clavicular. A cabeça esternal origina-se na face anterior do manúbrio do esterno, enquanto a clavicular se origina no terço medial da clavícula. Ambas as cabeças convergem para se inserir no processo mastoide.

Funções fisiológicas associadas
Este músculo é responsável por:
- Rotação contralateral da cabeça: Quando se contrai unilateralmente, gira a cabeça para o lado oposto.
- Flexão lateral do pescoço: Inclinação da cabeça para o mesmo lado da contração.
- Flexão cervical: Quando ambos os músculos se contraem simultaneamente, promovem a flexão do pescoço.
Relação com outras estruturas
O esternocleidomastoideo está intimamente relacionado com estruturas vasculares e nervosas importantes, como a veia jugular interna, a artéria carótida comum e os nervos acessório espinhal e cervical. Diversas condições afetam sua função:
- Torcicolo congênito muscular: Afeta cerca de 0,3% dos recém-nascidos no mundo.
- Lesões traumáticas: Comuns em acidentes automobilísticos, especialmente em casos de “chicotada cervical”.
- Distonias cervicais: Incidência estimada em 9 casos por 100.000 habitantes.
No Brasil, dados específicos são escassos, mas sabe-se que acidentes de trânsito e lesões esportivas contribuem significativamente para as patologias associadas.
Principais causas
- Torcicolo congênito: Devido à fibrose unilateral do músculo.
- Traumas: Lesões diretas ou estiramentos bruscos.
- Distonias: Alterações neurológicas de origem central.
Fatores predisponentes
- Idade: Distonias são mais comuns em adultos jovens.
- Estilo de vida: Posturas inadequadas e estresse podem contribuir.
- Doenças associadas: Condições neurológicas preexistentes.
Mecanismos fisiopatológicos
As lesões no esternocleidomastoideo podem levar a:
- Contraturas musculares: Devido ao aumento da atividade elétrica muscular.
- Fibrose: Especialmente em casos congênitos.
- Compressão de estruturas adjacentes: Levando a sintomas adicionais.
Principais condições relacionadas
Torcicolo congênito
Resulta de uma fibrose unilateral do músculo, limitando os movimentos do pescoço do recém-nascido. A origem exata ainda é objeto de estudo, mas acredita-se em hipóxia intrauterina ou traumas durante o parto.
Lesões traumáticas
O estiramento exagerado pode causar microlesões nas fibras musculares, desencadeando inflamação, dor e limitação de movimento.
Distonias cervicais
Caracterizadas por contrações musculares involuntárias, resultam de disfunções nos gânglios da base e nos circuitos neuromusculares.
Manifestações clínicas
Sinais e sintomas principais
- Dor cervical: Intensa e localizada.
- Limitação de movimento: Dificuldade para girar ou inclinar a cabeça.
- Deformidades visíveis: Desvio postural do pescoço.
- Espasmos musculares: Contrações involuntárias.
Classificações
- Torcicolo agudo: Início súbito, geralmente devido a traumas ou postura inadequada.
- Torcicolo crônico: Associado a distonias ou alterações congênitas.
- Torcicolo espasmódico: Resultante de distúrbios neurológicos.
Possíveis complicações
- Degeneração articular: Devido ao alinhamento inadequado.
- Compressão nervosa: Levando a parestesias.
- Impacto psicológico: Alterações estéticas e limitações podem afetar a qualidade de vida.
Diagnóstico de condições associadas ao esternocleidomastoideo
Critérios diagnósticos
O diagnóstico é clínico, baseado na história do paciente e no exame físico detalhado. Atenção especial deve ser dada aos antecedentes traumáticos, histórico familiar e sintomas associados.
Exame físico
- Inspeção: Avaliação de deformidades, postura e simetria muscular.
- Palpação: Identificação de pontos de dor e tensão muscular.
- Mobilidade cervical: Testes de amplitude de movimento.
Exames complementares
- Imagem:
- Radiografia cervical: Avalia a integridade óssea.
- Ressonância magnética: Detalha estruturas musculares e neurais.
- Tomografia computadorizada: Útil em casos de trauma.
- Eletromiografia: Avalia a atividade elétrica muscular, especialmente em distonias.
Diagnósticos diferenciais
- Lesões vertebrais
- Artrite reumatoide cervical
- Infecções locais
- Neoplasias
Tratamento de condições associadas ao esternocleidomastoideo
Agora, vamos mergulhar nas estratégias de tratamento para as condições relacionadas ao esternocleidomastoideo. Afinal, saber como intervir é crucial para oferecer alívio e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Opções de tratamento
Tratamento clínico
- Fisioterapia: É a base do tratamento para muitas afecções do esternocleidomastoideo. Através de alongamentos e técnicas de mobilização, visa restaurar a amplitude de movimento e diminuir a rigidez muscular.
- Terapia manual: Massagens e manipulações podem aliviar a tensão e reduzir a dor.
- Calor e frio terapêuticos: A aplicação de calor ajuda a relaxar os músculos, enquanto o frio pode reduzir a inflamação.
Tratamento medicamentoso
- Analgésicos: Utilizados para controle da dor.
- Relaxantes musculares: Ajudam a diminuir o tônus muscular excessivo.
- Toxina botulínica tipo A: Indicada especialmente para distonias cervicais, promove o relaxamento do músculo afetado.
Medicamentos de primeira escolha
- Analgésicos comuns: Como paracetamol e dipirona, são frequentemente prescritos para alívio inicial da dor.
- Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Como ibuprofeno e naproxeno, ajudam no controle da dor e inflamação.
Medicamentos de segunda linha
- Relaxantes musculares: Como ciclobenzaprina, são considerados quando há persistência dos sintomas.
- Anticonvulsivantes e anticolinérgicos: Utilizados em casos refratários de distonia.
Alternativas para casos especiais
- Intervenção cirúrgica: Rara, mas pode ser considerada em torcicolo congênito resistente ao tratamento conservador.
- Estimulação cerebral profunda: Uma opção para distonias severas não responsivas a outros tratamentos.
Condutas específicas em diferentes cenários clínicos
- Torcicolo congênito: Iniciar fisioterapia o mais precocemente possível é essencial para evitar deformidades permanentes.
- Lesões traumáticas: O manejo inicial inclui repouso, aplicação de gelo e, posteriormente, fisioterapia.
- Distonias cervicais: Abordagem multidisciplinar envolvendo neurologia, fisioterapia e, em alguns casos, psicologia.
Tratamento multidisciplinar
O envolvimento de uma equipe composta por médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos pode oferecer um cuidado mais completo, abordando não apenas os aspectos físicos, mas também emocionais do paciente.
Medidas de prevenção primária
- Educação postural: Orientar pacientes sobre a importância da postura correta no trabalho e nas atividades diárias.
- Exercícios regulares: Fortalecer a musculatura cervical e melhorar a flexibilidade.
- Ergonomia: Adequação do ambiente de trabalho para reduzir o risco de lesões.
Prevenção secundária
- Detecção precoce: Identificar sinais iniciais de distonias ou outros distúrbios musculares.
- Acompanhamento regular: Pacientes com histórico de lesões cervicais devem ser monitorados periodicamente.
Campanhas de saúde pública e diretrizes médicas
Programas governamentais enfatizam a importância da saúde ocupacional e promovem ações para prevenção de doenças musculoesqueléticas no ambiente de trabalho.
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